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Aqui também há poesia...


Publicada em: 23/08/2012 15:34
por: Hélio da Rosa Machado

                   Quem  de nós não tem saudade dos tempos de meninos, quando a natureza nos oferecia paisagens genuínas que até hoje ficaram impregnadas em nossa memória.

                    Lembrei-me do meu sertão, lugar onde tive a satisfação de viver quando era criança. As lembranças são muitas...Não me contive e desejei  mostrar aos nossos simpatizantes os momentos de inspiração onde descrevo minhas viagens de carroça feitas por cerca de uns 40 quilômetros entre o sítio do meu pai (em Amambai) e a cidade.

                    Segue o texto:

SAUDADES DE MEU SERTÃO!

 

(Hélio da Rosa Machado)

 

 

Oh, sertão tão estrelado! Sonho como você quase toda noite. Parece que estou voltando àqueles tempos de alegria. Era lindo quando amanhecia o dia. Ali cantava o sabiá laranjeira. E, lá ia eu por aquelas estradas arenosas aonde andava a carroça, rumando para a cidade. Era madrugada e começava um dia intenso de felicidade. Era, eu, que dali a pouco deixaria o campo para curtir minha cidade!

 

Mas, era uma viagem morosa, de nada fervorosa por que era abreviada pela prosa. O tempo passava como o vento, mesmo que a viagem dependesse daquelas rodas de madeiras que iam rasgando aquelas areias. O cavalo pisava fundo, abanando a crina e balançando o rabo. Ele seguia inquieto, deixando um rastro bem reto, numa marcha inconstante, como se quisesse chegar um pouco antes.

 

Logo, cruzávamos a aldeia. E uma fumaça se erguia no ar, naquele céu de alegria. Era a panela de barro que fervia no fogo, para que fosse feito o desjejum á base de milho. Ali tudo se repetia num estribilho na simplicidade da vida de outrora, sempre que surgia a aurora. Os índios saiam com arcos e flechas, para caçar as lebres que vinham alimentar-se dos capins. E logo se ouvia o disparo, causando cheiro de pólvora, mas, no açoite do vento, expandia-se o tormento, aliviado pelo cheiro de jasmim, vindo de uma flor que nasceu no meio do capim.

 

Assim, seguia a carroça. Com o rugir das rodas. Que estremeciam nos buracos.  Exigindo a força bruta do alazão dourado. Que tinha força bruta, mas se deliciava pela brisa que batia em seu corpo, causando nele um certo alvoroço que se espalhava dos cascos ao pescoço. Acho que era a brisa tão leve que lhe enchia de sofreguidão em face daquele cheiroso sertão que às vezes tinha gosto de frutas, tinha cheiro de flores, mas que fugia de nossas sondagens porque chegava ao olfato do nosso alazão através das folhas das pastagens.

 

                        E o astro rei Sol surgia no horizonte! Era um dia qualquer da semana. Como se inexistisse descanso para a raça humana. Estávamos sós naquele torrão longínquo onde quase não existia gente.  Só a gente naquela estrada. Enfrentando todos os percalços do caminho com um nó na garganta, assustando-se até com os trotear das antas. Era um medo incômodo, mas lindo, pois vinha junto com a brisa do campo. A gente se esquecia dos tormentos em face ao cheiro da terra e das cores das borboletas que sentavam pelo caminho e pelos passarinhos que traziam os alimentos para os seus ninhos.

 

Logo tudo se acalmava. Era nossa carruagem que chegava. A primeira visita era a Igreja. Na presença dos Santos. Uma oração de esperança, pra um bom retorno à querência. A reza era rápida, em face da urgência, pois era dia de semana e não era muita a grana. Depois das compras do mês: sabão, óleo e charque. Porque outras coisas a gente plantava. Naquelas roças abundantes as plantas nasciam e cresciam viçosas ao lado de árvores aconchegantes. Pois, tudo dava naquele sertão. De milho a mandioca. De melancia a arroz e feijão.

 

Esse era o meu sertão. Onde tudo era belo. Como o cantar do galo. E o trote do cavalo. Nos verdes campos do luar. Quando as árvores sorriam. Pelos encantos da natureza. Que encerrava tanta beleza. Que passou como o vento, mas ficou no pensamento. Em forma de tormento. Pois esse era o meu sertão. Que se foi como um raio. Mas ficou aqui dentro como força de um lamento!

 

Oh, sertão dos meus sonhos. Para ti retorno angustiado. Vendo os campos desmatados que assisto no presente. Pelo progresso demente. Que insiste em hostilizar nosso lugar. Assim vou morrendo também. Nos sonhos que vivi. Daquele recanto sublime. De ar puro e natureza virgem. Que não vejo jamais. Só em notícia de jornais.

 

Hoje, só os campos cinzentos do cerrado. As árvores foram trocadas pelo arado. As máquinas é que roubam a cena. Extinguindo-se aquelas manhãs serenas. Por trigo, milho, soja e cana. Tudo em nome da grana. Mas, até aonde as coisas vão chegar? Será que o homem nunca vai parar? É hora de pensar! Preservar e amar as coisas como elas são. Elas são belas quando intocadas. Elas são imensas e genuinamente belas quando crescem sozinhas. Vamos dar uma chance. Vamos reconstruir aquele sertão de antes!



Imagens

Reconstruindo os tempos em que o sertão era a nossa vida.

Comentários (1)

Enviado por: Simple Perfect, em: 24/08/2012 12:23
Perfeito de Simples!!!

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