Aproveito que estamos 'dando um tempo'
nos assuntos futebolísticos, em razão do final de semana prolongado, para fazer
homenagem aos irmãos paraguaios.
Acredito que aqui neste site deve haver
muitos interioranos que ao ler os episódios se lembrarão de outros paraguaios
que moravam em seu torrão natal.
Faço chegar aos amigos internautas
pequenas histórias de paraguaios que viviam em Amambai, há muito tempo, quando
lá eu habitava pelos idos de 1970:
OS
PARAGUAIOS
AMAMBAIENSES
Nossa
queridíssima Amambai, em minha época, lá pelos idos de 1960 a 1970, tinha uma
colônia de paraguaios que, em face da proximidade com o vizinho país
estrangeiro, eles acabavam estabelecendo residência em nossa cidade crepúsculo.
Nesse contingente, minha lembrança permite citar pessoas como: Coliante, Cachi
(ou Caxi), Benitez, Marcemílio, Antônio Delgado e muitos outros. Perdoe-me os parentes se estou escrevendo os
nomes em desacordo com a grafia correta. Sucede que faz muitos anos que não
frequento minha cidade natal e, por conseguinte, perdi um pouco a identidade
contemporânea que me permitiria ser mais exato nas citações.
Devo ter
esquecido quanto a alguns deles, já que não eram poucos. Entretanto, são esses
que citei que desejo homenagear nesta matéria, já que são eles que vêm à
memória neste instante.
Cada um deles
construiu a sua história em Amambai, como é o caso de o Antônio Delgado que se
não me falha a memória era agrimensor, mas, frequentou as bancadas escolares
como professor ministrando aulas de inglês. Tive oportunidade de ser seu aluno
e lembro-me bem de um professor enérgico, mas, que tinha capacidade ímpar de
ensinar já que, mesmo ensinando a língua dos norte americanos, em certos
momentos, também ensinava o castelhano.
Entretanto,
quanto aos demais citados não tive muito contato e por isso não sei muito
sobre a vida pessoal deles. Sei que,
tanto o Coliante, como o Cachi (ou Caxi), eram pais de alguns rapazes da época
com quem eu costumava jogar algumas ‘peladinhas’ de rua. O Bauer, por exemplo,
foi um dos expoentes do futebol amambaiense, por ter atuado no elenco do famoso
Milionário, na época do saudoso Ernesto Landolf. Lembro-me que o Bauer é filho
do Cachi, aquele paraguaio que tinha uma quitanda bem em frente à Praça Coronel
Valêncio. O Coliante era um sapateiro que tinha seu estabelecimento bem perto
da escola Estadual Felipe de Brum.
O Benitez era
aquele zagueirão que frequentou o elenco do Milionário. O homem era firme na
sua hora. Não era qualquer centro avante que conseguia driblá-lo. Ele chegava
firme e espanava a bola junto com o adversário. Acho que ele também foi trabalhador
da Prefeitura de Amambai.
Entretanto, o
paraguaio que mais marcou minha vida de amambaiense foi o Marcemílio. Acho que
muitos daqueles que moraram em Amambai e que eram garotos naquela década de
60-70, hão de se recordar dos momentos em que eram levados pelos pais para
cortar o cabelo. O Marcemílio era proprietário de um único estabelecimento de
corte de cabelo. Cortar o cabelo naquela época era algo traumático e de repúdio.
Momento de desespero. Era semelhante ao
dia em que a meninada era levada pelos pais para tomar a vacina contra a
varíola.
Ele não possuía
muita técnica para fazer a manutenção nos seus aparelhos de corte de cabelo.
Lembro-me da máquina prateada. Um utensílio com dois cabos que se prendiam
entre os dedos daquele algoz. A máquina era dotada de dentes que, com a
compressão dos dedos, fissuraram os fios de cabelo. A expressão correta seria de
que aqueles dentes eram comprimidos e cortavam o cabelo. Ocorre que a máquina,
com o passar do tempo não mais cortavam, visto que a falta de manutenção dos
seus dentes, acabavam por puxar, arrancar, fissurar os fios de cabelo. Era uma
dor que ainda não esqueci. Como meu pai sempre fazia a opção de que o corte
fosse ao estilo americano, com o intuito de que a volta ao ‘barbeiro’ fosse
mais demorada e mais econômica, jamais eu poderia passar por um sofrimento
menos severo, visto que o corte poderia ser à base, exclusivamente, de tesoura,
com uma dor menos angustiante.
Outro fator que
me arrepiava quando ia fazer o corte de cabelo está relacionada com a
localidade de trabalho de Marcemílio. Seu estabelecimento era bem próximo do
cemitério. Como algumas vezes eu deparei com os naturais ‘enterros’ de ocasião,
que sempre traziam dor na alma, essa era outra faceta que me aterrorizava no
dia em que tinha de passar por esse sacrifício. Assim, no dia de cortar o
cabelo eu sempre torcia por duas coisas boas, as máquinas estarem bem
lubrificadas (afiadas)e não haver nenhum ‘enterro’ (ou funeral).
Esses cortes de
cabelo marcaram tanto em minha memória, que dia desses quando estava cortando o
cabelo, diante dessas atuais máquinas elétricas, onde o único incômodo é o
suave barulhinho, aliviei-me com o comentário sutil de que a evolução dos
tempos evita a dor e traz conforto. Evidente que aquele que fazia o corte de
meu cabelo não entendeu bulhufas o que eu estava dizendo, mas logo eu emendei
que estava lembrando quando era moleque e cortava meu cabelo lá com o
Marcemílio.
Não sei se
alguns deles ainda são vivos, mas, acredito que essas lembranças só elevam o
grau de contribuição que tais pessoas deram para o município de Amambai. Eles
são lembrados como trabalhadores que distribuíram exemplos de trabalho e de
perseverança, no sentido de que Amambai pudesse ser servida pelas suas mãos,
cada um a seu jeito, ou com seu trabalho de intelectualidade, como foi o caso
de Antônio Delgado.