Há muito não se via um selecionado
canarinho tão dedicado dentro de campo, visto que o marasmo que existia na
marcação há algum tempo atrás deixou de existir na volta do técnico Felipão. Os
jogadores se convenceram que não basta jogar com a bola. O futebol moderno
exige que o time seja obstinado quando não está na posse da bola e seja
convincente e insinuante quando está com ela. Ou seja, o primeiro aspecto
tático era um tanto quanto desconhecido, já que os jogadores brasileiros sempre
gostaram de jogar com a bola nos pés. Faltava, assim, treinar e redescobrir uma
fórmula de marcar o adversário dentro do próprio campo de ataque. Foi o que
ocorreu com o Brasil, especialmente neste jogo contra a Espanha.
O time brasileiro teve um misto de garra,
dedicação tática e fez o que sempre soube fazer que é dedicar-se às jogadas
individuais que nossos jogadores mais sabem fazer. No que diz respeito às
iniciativas e à criatividade de cada um sempre fomos vanguarda no futebol
mundial. Nesse jogo contra a Espanha os jogadores de ataque souberam ir pra
cima do adversário e aos poucos foram fazendo os gols necessários para vencer a
partida.
Está aí. Mais uma vez nosso selecionado
surpreendeu. Parece que sempre que a seleção canarinho está desacreditada ela
se supera e consegue vencer os obstáculos.
Confesso que não acreditava que nosso
selecionado fosse chegar a essa final com tamanho discernimento e com boa
margem de convencimento. Isso demonstra
que nossos atletas quando se entregam dentro de campo são quase insuperáveis,
já que se sobressaem sobre os outros pela técnica individual.
Quem tinha dúvida sobre a atuação do Neymar
deve estar se cobrando pessoalmente por não ter feito a leitura do que estava
acontecendo com o nosso craque. Como já disse alhures, o Neymar é um ser
humano. Uma pessoa comum na vida cotidiana. É praticamente impossível jogar
bola e se envolver profundamente com outros aspectos que não seja o futebol. No
time do Santos o Neymar estava se pagando, por isso, além de ter de jogar bola
ainda tinha de se virar com os compromissos de imagem. A partir do momento em que
ele se desvinculou da equipe praiana e se reuniu com o selecionado brasileiro sofreu
um processo de blindagem, passando a se dedicar exclusivamente com o futebol.
Resultado: Ele voltou a jogar em alto nível.
É evidente que o título da Copa das
Confederações é só o começo e não significa que o selecionado está pronto para
uma Copa do Mundo. Falta muito ainda. Até porque estamos distante quase um ano
do mundial. Preocupa o fato de o Brasil só ficar jogando amistosos enquanto os
outros times da América Latina estão disputando as eliminatórias. Esse certame
serve para que o time se ajuste e passe a se tornar uma equipe entrosada. Ficar
jogando amistosos é sempre uma incógnita porque não requer a pressão necessária
que é exigível numa competição oficial.
A dupla Felipão e Parreira demonstrou que
está entrosada. Eles são pessoas que se completam em termos de conduta. O
Felipão faz o papel do xerife enquanto Parreira, com a sua diplomacia e sua
experiência didática acrescenta no setor de orientação e no que diz respeito ao
trato com autoridades e com a mídia nacional e estrangeira.
Nesse aspecto acertou o atual presidente da
CBF. Ele trouxe dois coringas para comandar o excrete canarinho. Isso é
importante sob o aspecto organizacional. Um é disciplinador e o outro
apaziguador. Essa mescla de atributos contribui para o bem-estar do grupo.
Estamos no caminho certo. Quem sabe para o
ano que vem não tenhamos um selecionado mais próximo das aspirações populares,
já que até o dia de hoje, depois de vencermos a Espanha, o torcedor brasileiro
ainda estava ‘com o pé atrás’ com esse grupo de jogadores.
Não esqueçamos, porém, que nosso país
precisa de todos nós para combater a parte nefasta que comanda a Nação. O
futebol é só um ingrediente que nos faz bem, mas não devemos ficar iludidos a
ponto de acharmos que as nossas pendências sociais serão mascaradas com esse
título.
Devemos continuar atentos com os desmandos
dos políticos e dos governantes. É bom que o nosso futebol tenha acordado junto
com o gigante, visto que assim nosso povo estará com o coração mais aliviado e
saberá conduzir as reivindicações sem o ranço de muitos que talvez estivessem
ansiosos por emoções mais suaves, já que a violência só atormenta ao invés de
produzir a paz.
O futebol tem essa magia de aliviar a dor,
mas, não é capaz de retirar do peito o nosso sofrimento, já que este último é o
resultado das doenças sociais que são sedimentadas pelas indiferenças e pelas
exclusões por parte daqueles que deveriam zelar por nossos direitos.
Aliás, essa Copa das Confederações serviu
não só para exaltar nossa paixão pelo futebol, mas, também para mostrar que
nosso povo não aguenta mais conviver com a indiferença. Os estádios serviram de
base para que a população mostrasse brasilidade e civismo. Nos seus arredores
as passeatas exibiam nossa insatisfação. Esse misto de alegria e tristeza se
fundiu como um alerta e repercutiu internacionalmente demonstrando para o mundo
que o brasileiro anseia em construir um país que não é só carnaval e futebol,
mas sim um reduto onde impera a liberdade de expressão.