Já tivemos muitas polêmicas protagonizadas por craques brasileiros. Isso parecia coisa do passado. Quem não se lembra das ‘malandragens’ do baixinho Romário? Não há como esquecer as nuances indisciplinares de Edmundo e Serginho Chulápa? As corriqueiras ‘saidinhas na noite’ de jogadores como: Edilson, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenônemo e muitos outros? Digo que pareciam coisas do passado, porque hoje, com a evolução do futebol e com as exigências físicas repassadas ao jogador, os atletas são obrigados a terem uma postura mais discreta. Assim, eles só se divertem nas folgas e mesmo sob essa dispensa sombria são obrigados a se portarem como lordes porque podem arranhar a imagem (que dá mais dinheiro que os pés).
Entretanto, a meu ver, quem tem arranhado sua imagem é o goleiro Rogério Ceni do São Paulo. O time se acha atolado em uma crise e o seu goleiro famoso, ao invés de contribuir dentro de campo fazendo o que sempre fez, ou seja, defendendo e cobrando pênaltis, tem invertido a conduta para protagonizar lances incompatíveis com sua história.
O episódio evolvendo o ex técnico Ney Franco foi uma ‘pá de cal’ para inflamar a crise no elenco são paulino. Não se sabe ao certo o que foi que esse treinador fez dentro do clube que causou tanto alvoroço. A meu ver, quem inchou a polêmica foi o próprio Rogério Ceni que, em face de discordância com a atuação do treinador passou a ter por ele certa incongruência comportamental. O Ceni foi indelicado ao seu manifestar na imprensa, recentemente, no sentido de que se fosse ele (Rogério Ceni) quem mandasse mesmo no São Paulo o Ney Franco já teria ‘ido pra rua mais cedo’. Isso soou mal para o goleiro. Um arqueiro com tanta história como ele não deveria externar esse tipo de desenlace, até porque a demissão de Ney Franco já tinha acontecido e não era o objeto de discussão na entrevista com o goleiro do São Paulo.
Essa manifestação, para mim, ecoou como uma flecha que atingiu o cerne da crise. Clube nenhum consegue administrar suas pendências quando tem muita gente querendo mandar. Ora, o Rogério Ceni é só um jogador que fez história no clube. O jogador passa, o clube fica. Assim, quando esse jogador aposentar e ele quiser assumir outra função dentro do clube deverá reassumir, urgente, a nova função. Por enquanto ele deve parar de querer ser mais que um jogador.
Em todo o caso, nas relações interpessoais cada um age de sua forma. Não se deve elogiar e nem criticar aquilo que a gente não tem alcance para julgar. É o caso. Ou seja, não estou me fazendo de ‘carrasco’ e nem querendo semear a discórdia. Só estou vendo um fato que deveria servir de lição para Rogério Ceni já que ele, querendo ou não, é um homem público e sujeito a prestar contas de suas atitudes.
Penso, entretanto, que sua imagem continua resoluta e digna de registro na história do clube. Ele foi e ainda é um grande goleiro, mas em fim de carreira. Pode ser que a chegada dessa aposentadoria o tenha levado a certo desequilíbrio. Sucede que no fim de uma tarefa, por mais satisfatório que seja o seu resultado, sempre iremos indagar se o trabalho foi bem feito. Acredito que como jogador o Rogério Ceni só tem de ser contemplado pelas suas belas defesas e pelo lance inédito de ser o único goleiro brasileiro a atingir a média de maior goleador na sua posição.
Assim, essa imagem trincada que o título sugere não foi capaz de ofuscar a grandeza de sua participação como goleiro do São Paulo. Sua história continuará intacta até que outro goleiro supere seus feitos. O que, convenhamos, vai ser muito difícil.